Aula de etiqueta motociclística

 

Publicado em 22 de outubro de 2012

O brasileiro sempre se considerou um povo amigo, cordial e da paz. E é justamente por isso que nós, tupiniquins, costumamos quebrar duas das mais antigas e tradicionais regras do motociclismo:

1) Jamais, em hipótese alguma, sente na moto de outro homem sem convite.

Essa é auto explicativa. Antigamente, você poderia voltar com um olho roxo para casa por fazer isso, mas hoje parece que é necessário explicar que a sua moto não é um cavalinho de brinquedo para adultos tirarem fotos.

Há uns dez anos, aluguei uma vaga em um prédio residencial perto do local onde trabalhava. Como eu vivia duro, costumava deixar ela na rua, e tive várias peças roubadas por causa disso. Mas um amigo me descolou essa vaga e comecei a parar lá. Mas por vaga, entenda o direito de estacionar dividindo espaço com o Gol bola do dono do tal apartamento, que me cobrava dinheiro de pinga para fazer isso.

Depois de um certo tempo, comecei a perceber que a minha moto estava sempre limpa, mesmo indo debaixo de chuva para o trabalho. Até que um dia saí bem mais cedo do que de costume e descobri a razão: para impressionar uma vizinha que chegava todo dia as seis em ponto, o sujeito às vezes descia para a garagem com uma camiseta da Harley-Davidson (minha moto era uma Honda), e lavava a minha moto para fingir que era dele.

2) Nunca peça para “experimentar” a moto de alguém.

Tem um ditado em inglês que diz “Não peça pra andar na minha moto, que eu não peço para foder com a sua esposa”. Sério: você acabou de conhecer um sujeito, e mesmo tendo pouquíssima intimidade com ele, já pede para “experimentar“ a moto dele? Se você tem desapego pelas suas coisas, parabéns! Você está muito mais próximo da iluminação espiritual do que a maioria de nós. Então deixe a gente viver com o nosso atraso e simplesmente não peça para andar na moto de outro homem.

Se alguém quiser que você ande, vai te oferecer. Provavelmente torcendo pra você responder “não”.

Eu gosto de moto. Gosto de falar, mexer, fuçar e andar nelas. De escrever e ler sobre elas. Qualquer ocasião social chata se torna interessante no momento que eu encontro alguém que também gosta delas para conversar.

Deve ser por isso que eu sempre tive uma certa birra com grupinhos fechados. O elitista que só conversa com quem tem motos caras. O jaspion que só gosta das hiper-ultra-esportivas lançadas naquele mês. O Harleyro que não sabe o que é uma knucklehead, mas diz a todos que a única moto é a Harley. O big-trail que só pega estrada pra ir pro Ushuaia, e só fala com quem já fez algo similar. O piloto que menospreza o iniciante.

Esse blog é um bom exemplo disso. Sendo sincero, ele não é para qualquer um. Se você chegou aqui, pode se considerar um “iniciado” nesse submundo das motos. Nunca troquei o meu objetivo de falar de motos exóticas, antigas, café racers, bobbers e afins por mais acessos e visitantes. E sempre preferi abrir a conversa, para fazer com que todos participassem. É por isso que recebo uma pancada de emails e comentários de todo o Brasil, desde o cara que fez uma café racer com uma CG125 no interior do país, ao cara que tem uma enorme e cara coleção.

E na minha humilde opinião, esse é o espírito. Andar juntos, conversar, trocar idéias, sem preconceito. Nos fóruns de internet, é comum encontrar o cara que compra uma Harley, fica feliz da vida achando que vai fazer amigos, e descobre que mesmo entre os donos de uma mesma marca, as pessoas foram criando sub-panelas. É coxas versus malvadões, donos de Sportster vs. Baggers, dono de moto azul vs. dono de moto fosca, e por aí vai.

E vídeos como esses aí de cima sempre me deixam feliz. São M.C.s com poucas regras (mais para uma brotherhood), com uma galera heterogênea e motos que fogem do padrão, cada uma com um estilo. Dá pra ver que a idéia dos caras é simplesmente liberdade e diversão, todo mundo bem vindo.

Afinal, não foi isso que atraiu a gente para o mundo das motos em primeiro lugar?

Uma dica para aqueles que ainda não se aventuraram a meter a mão na massa: não é difícil começar a mexer na sua própria moto. Você só precisa de boa vontade e um bom jogo de ferramentas básicas.

Não existe regra, mas acredito o melhor caminho para começar é devorando o manual que veio junto da sua moto de cabo a rabo. Depois disso, comece a fazer a manutenção básica descrita nele, que geralmente inclui:

– Checagem do nível do óleo do motor.
– Troca do óleo do motor.
– Troca do fluido de arrefecimento (nas com radiador)
– Regulagem do farol.
– Troca das lâmpadas do farol e piscas.
– Regulagem e lubrificação da corrente (se for com correia, apenas a checagem da tensão dela, se for cardã, quase nada a se fazer nessa etapa)
– Calibragem dos pneus.
– Remoção da bateria.
– Troca e limpeza dos fusíveis.
– Regulagem dos cabos e manetes.
– Troca e limpeza do filtro de ar.

Fazendo os itens dessa lista, você começa a ganhar intimidade com a sua moto e economiza uma boa grana com serviços. Sem falar que meter a mão na massa é indispensável para qualquer pessoa que se diz um apaixonado por motos, uma tradição que vem desde o tempo em que as motocicletas não eram nada confiáveis.

Claro que existem empecilhos: se você mora em prédio, não dá para fazer algumas dessas coisas na garagem sem quebrar as regras do condomínio. Mas isso é um bom motivo para visitar aquele seu amigo que mora em uma casa, e passar a manhã de domingo tomando umas cervejas e fuçando na moto na garagem dele.

Depois, se você quiser aprofundar no assunto, existem diversos livros e vídeos para ajudar você, como foi discutido neste tópico aqui.

Agora ‘bora meter a mão na massa.

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