PRAZER SOBRE DUAS RODAS
QUANDO OS MEIOS SÃO OS FINS
Rodando longas distâncias, tudo está envolvido no tempo e no espaço. Além da roupa de proteção no corpo, nada me separa do mundo. Me sinto feliz e aliviado das cobranças cotidianas, ao passar pela vastidão das paisagens. Ao mesmo tempo, continuo perto de chão e me sinto intimamente ligado a ele.
O destino da viagem é ancorado na imaginação, e não trato como primordial a chegada ao ponto final, originalmente traçado. Irreal e pouco subjetivo é o término do dia. Meço com os meus olhos as longas distâncias e fico surpreendido, ao fim de cada jornada, ter rodado tanto.
Destino, em qualquer parte da viagem, será que ele deve existir? Algumas vezes são paradas espontâneas no meio do caminho. Mas, a sensação é diferente de uma escala de avião, uma estação de trem ou um descanso numa viagem de carro.
Com uma motocicleta, posso parar em qualquer ponto, transformando-o num ponto de chegada. Desligo o motor, tiro o capacete, me espreguiço e esfrego a nuca. Ando um pouco pela rua, por um campo ou por uma floresta, olho ao redor e nem preciso ver nada de espetacular ou pitoresco.
O fato de ter parado faz daquele lugar um lugar especial. Quando coloco a moto no descanso, significa que cheguei e estou diante de uma coisa única.